Uma das minhas lembranças de infância se passa na praia, quando acordávamos bem cedo para irmos em família nos divertir. Era 1985, tempo em que o noticiário fervilhava por causa da redemocratização (plena) após o governo cívico-militar, que colocou o País nos eixos democráticos mas que não conseguiu, ao final, suportar a galopada duma inflação que tornou os anos 1980 a "década perdida".
Pois bem, como meu pai fazia logo cedo, ligava a TV do quarto. E lá estava Carlos Monforte em seu "Bom Dia Brasil", com muitos convidados ilustres, com o café-da-manhã com políticos famosos - até hoje me lembro do "cabelão" da Délis Ortiz à mesa com Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda - e de Delfim Netto sendo entrevistado bem cedo, antes de ir ao trabalho no governo. O jornal tinha um tom solene, até um pouco fúnebre. Era muito "adulto" para uma criança de 8 anos de idade.
Achava interessante, entretanto, a abertura e a trilha sonora. O "Bom Dia" desfilando na tela, girando, até que surgia o mapa do Brasil iluminado de verde e amarelo no centro. Aquelas camadas todas que aparentavam madeira - e eu, como criança, nem sabia que aquilo era feito por computador - e girava, sem mãos humanas! Note-se que uma criança daqueles anos não tinha a menor ideia do que eram modelos em terceira dimensão, nem sabia o que era, de fato, computação gráfica.
Já a trilha era interessante, pois ao final reproduzia acordes da "Aquarela do Brasil". Essa eu conhecia, especialmente através de desenho animado do Zé Carioca e de tê-la ouvido em alguma programação da TV, reportagem ou novela, não me lembro. Com os olhos de hoje, vejo que era uma produção meio precária, que procurava seguir os padrões globais à distância: produzia um telejornal de rede na capital federal, às 7 da manhã, com recursos de uma emissora local, de recursos um tanto modestos. O cenário, pelo que soube, foi produzido no Rio e levado para Brasília. Os repórteres e jornalistas contratados na capital da República. A vinheta e trilha - que ficaram no ar por longos 11 anos, e nós aqui do blog reclamando dos 10 anos da vinheta dos Bom Dia Praça, na nossa enquete - assim como outros detalhes de produção, todos vindos da matriz. Olhando com as impressões de hoje, dá para se perceber que a Globo tentou, apesar de "poderosa", fazer o melhor que pôde naqueles duros anos de hiperinflação. Essa fase durou até 31/03/1996, quando Luiz Carlos Braga apresentou a última edição direto de Brasília, com a sobriedade do bom profissional que é, e que dia seguinte era aberto por Renato Machado e Leilane Neubarth direto do estúdio carioca, com uma vinheta repaginada - pelas trilhas sintetizadas, subentendido - e produção ainda em testes.
Interessante era aquele locutor de voz igualmente fúnebre que anunciava no dia anterior, ao encerrar o Jornal Nacional: "Amanhã o Ministro da Economia, Fazenda e Planejamento, Maílson da Nóbrega, é um dos entrevistados do Bom Dia Brasil, às 7 da manhã". Outros tempos, em que não se entendia bulhufas do noticiário político, mas que pelo menos era constantemente documentado pelos repórteres, e direto do centro das decisões mais importantes do País.
Pensei neste documentário como uma singela e indireta homenagem a um jornal feito na nossa querida capital federal, que dia 21 completa 50 anos de existência. Que tenhamos o espírito empreendedor de seu criador, JK, que se mostrou um dos maiores brasileiros do século XX. Lutou, perseverou, e construiu Brasília no meio do cerrado. No meio do nada.
Parabéns, Brasília. Que na tua terra haja mais decência. Que sejas tão bela e imponente quanto teu Eixo Monumental. Monumental, como deve ser nosso Brasil.
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CLEBER OLYMPIO é paulistano, advogado pela PUC/Campinas, locutor noticiarista pelo SENAC/SP e aprecia vinhetas de telejornais desde os 11 anos de idade. É o criador da comunidade "Vinhetas de Telejornais" no orkut. Siga-me no Twitter
segunda-feira, 19 de abril de 2010
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