segunda-feira, 19 de abril de 2010

Bom dia, de Brasília

Uma das minhas lembranças de infância se passa na praia, quando acordávamos bem cedo para irmos em família nos divertir. Era 1985, tempo em que o noticiário fervilhava por causa da redemocratização (plena) após o governo cívico-militar, que colocou o País nos eixos democráticos mas que não conseguiu, ao final, suportar a galopada duma inflação que tornou os anos 1980 a "década perdida".

Pois bem, como meu pai fazia logo cedo, ligava a TV do quarto. E lá estava Carlos Monforte em seu "Bom Dia Brasil", com muitos convidados ilustres, com o café-da-manhã com políticos famosos - até hoje me lembro do "cabelão" da Délis Ortiz à mesa com Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda - e de Delfim Netto sendo entrevistado bem cedo, antes de ir ao trabalho no governo. O jornal tinha um tom solene, até um pouco fúnebre. Era muito "adulto" para uma criança de 8 anos de idade.

Achava interessante, entretanto, a abertura e a trilha sonora. O "Bom Dia" desfilando na tela, girando, até que surgia o mapa do Brasil iluminado de verde e amarelo no centro. Aquelas camadas todas que aparentavam madeira - e eu, como criança, nem sabia que aquilo era feito por computador - e girava, sem mãos humanas! Note-se que uma criança daqueles anos não tinha a menor ideia do que eram modelos em terceira dimensão, nem sabia o que era, de fato, computação gráfica.



Já a trilha era interessante, pois ao final reproduzia acordes da "Aquarela do Brasil". Essa eu conhecia, especialmente através de desenho animado do Zé Carioca e de tê-la ouvido em alguma programação da TV, reportagem ou novela, não me lembro. Com os olhos de hoje, vejo que era uma produção meio precária, que procurava seguir os padrões globais à distância: produzia um telejornal de rede na capital federal, às 7 da manhã, com recursos de uma emissora local, de recursos um tanto modestos. O cenário, pelo que soube, foi produzido no Rio e levado para Brasília. Os repórteres e jornalistas contratados na capital da República. A vinheta e trilha - que ficaram no ar por longos 11 anos, e nós aqui do blog reclamando dos 10 anos da vinheta dos Bom Dia Praça, na nossa enquete - assim como outros detalhes de produção, todos vindos da matriz. Olhando com as impressões de hoje, dá para se perceber que a Globo tentou, apesar de "poderosa", fazer o melhor que pôde naqueles duros anos de hiperinflação. Essa fase durou até 31/03/1996, quando Luiz Carlos Braga apresentou a última edição direto de Brasília, com a sobriedade do bom profissional que é, e que dia seguinte era aberto por Renato Machado e Leilane Neubarth direto do estúdio carioca, com uma vinheta repaginada - pelas trilhas sintetizadas, subentendido - e produção ainda em testes.

Interessante era aquele locutor de voz igualmente fúnebre que anunciava no dia anterior, ao encerrar o Jornal Nacional: "Amanhã o Ministro da Economia, Fazenda e Planejamento, Maílson da Nóbrega, é um dos entrevistados do Bom Dia Brasil, às 7 da manhã". Outros tempos, em que não se entendia bulhufas do noticiário político, mas que pelo menos era constantemente documentado pelos repórteres, e direto do centro das decisões mais importantes do País.

Pensei neste documentário como uma singela e indireta homenagem a um jornal feito na nossa querida capital federal, que dia 21 completa 50 anos de existência. Que tenhamos o espírito empreendedor de seu criador, JK, que se mostrou um dos maiores brasileiros do século XX. Lutou, perseverou, e construiu Brasília no meio do cerrado. No meio do nada.

Parabéns, Brasília. Que na tua terra haja mais decência. Que sejas tão bela e imponente quanto teu Eixo Monumental. Monumental, como deve ser nosso Brasil.
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CLEBER OLYMPIO é paulistano, advogado pela PUC/Campinas, locutor noticiarista pelo SENAC/SP e aprecia vinhetas de telejornais desde os 11 anos de idade. É o criador da comunidade "Vinhetas de Telejornais" no orkut. Siga-me no Twitter

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